13.2.11

Querido Blogue,

eu não queria falar sobre isto mas ontem à noite não consegui dormir porque pus-me a pensar nisto e só eu sei que muito poucas coisas neste mundo são capazes de me tirar o sono.
Adiante, pelo que me apercebi a música nova dos Deolinda gerou por aí sentimentos contraditórios: há os que aplaudem de pé quando a ouvem e os que acham que em vez de aplaudir músicas destas, se estamos descontentes, devíamos era levantar o cu do sofá e ir apupar para a frente do parlamento. I´m with both sides. No entanto, fez-me um bocado de confusão e nervoso miudinho alguns posts que li por aí de contra-reacção a esta música. Que sim, que somos preguiçosos, que queremos as coisas de mão beijada, que os papás nos dão tudo, e por aí fora. Concerteza que sim, que haverá muita gente dessa por aí que prefere ficar em casa a choramingar ao som da bela da música, mas gente dessa sempre houve e sempre haverá e concerteza não será um problema exclusivo desta geração, mas sim uma coisa transversal. Outra coisa que reparei, é que  o coro que se levanta contra a música dos Deolinda também pertence a uma determinada geração. A geração antes da minha, com 30 ou mais anos, e que neste momento tem uma vida quase estável, com contratos de trabalho melhor ou pior remunerados, mas que efectivamente tem trabalho e até já conquistou alguma coisinha na vida (estabilidade, férias, carro, casa...). Não nego que tenham trabalhado que nem mouros para poder chegar ter essas coisas, mas a sério que não me parece que tenham o direito de criticar quem se reviu e revê naquela música. Eu não me revejo nem deixo de me rever. Tudo o que sei é que nunca tive tão pouca esperança no futuro como tenho agora. E não devia ser assim. Deveria estar agora a iniciar a minha vida, aspirando a um futuro confortável e a uma situação de trabalho não precária. A realidade, é no entanto bem diferente disto. Vejo ofertas de emprego miseráveis, contratos precários, recibos verdes. Vejo pessoas com cursos superiores a aceitarem empregos de merda, salários de merda, vidas de merda, porque têm contas para pagar e entre a precariedade e o desemprego escolhem a precariedade. Vejo patrões a aproveitarem-se disso, a explorar, a preferir não investir, não inovar, não empregar gente qualificada, porque sinceramente isso pouco lhes importa desde que consigam comprar o seu ferrari ou o seu porche. Vejo professoras a fazer limpezas porque não tiveram colocação, vejo engenheiros a vender pipocas e não consigo deixar de pensar que há qualquer coisa de muito errado aqui. Levantar o cú do sofá e protestar? Contra quem? De quem é a culpa? Dos patrões? Do estado? Do país? Dos meus pais que quiseram um futuro melhor para mim e me ensinaram que para vir a ter uma vida melhor no futuro devia investir na minha formação? Dos Deolinda que criaram uma música que incomoda muita gente? Chamem-me o que quiserem mas dia 12 de Março eu vou lá ter.

1 comentário:

Ana disse...

concordo.acho que os que criticam a musica são os que efectivamente já tem uma vida estável e não compreendem o que a nossa geração sente e vive todos os dias.

muitos se apressam a julgar,só para que os olhos não se virem para eles mesmos,percebes.

mas esta geração,a que está à rasca,acredito que será a mesma a levantar o País outra vez...ou mt me engano ou um dia destes...vai haver revolução...e não será com cravos...