9.9.10

Querido Blogue,

eu não conduzo. Apesar de ter carta há mais de 3 anos. E chateia-me não conduzir porque me limita os movimentos e não posso ir onde quero, quando quero. Para além de não ter carro próprio. E a questão é exactamente essa, é não ter um carro meu. Não que não haja pessoas a emprestar-me o delas. Eu é que gosto pouco de usar o que é dos outros. Se calhar porque não gosto que usem o que é meu e mo devolvam estragado. Não que vá andar para aí a partir carros à parva, mas a falta de experiência tiram-me a confiança. E depois não gosto de errar. Tirar a carta foi das coisas mais difíceis que fiz. Errar em frente a um estranho que me depois me chama a atenção para o que fiz mal é coisa para me tirar anos de vida. Não foram poucas as vezes que saí com um imenso sentimento de frustração daquelas aulas. E chorava e ia-me a baixo, como vou sempre que erro. Não sei se é perfeccionismo, ou se tem outro nome. Sempre fui assim.
Só comecei a falar muito tarde, por volta dos dois anos. Os meus pais chegaram inclusivamente a pensar que eu teria problemas. Mas quando comecei a falar, conta a minha mãe, dizia tudo e com raras excepções dizia tudo bem. Uma amiga psicóloga da minha mãe explicou-lhe que muito provavelmente o tempo todo que estive calada estive a aprender a falar e que não me aventurei antes de o saber fazer correctamente. Não há nada que me descreva melhor, porque é exactamente assim que eu sou. Não gosto de fazer mal feito, não gosto de apresentar coisas incompletas ou mal amanhadas. E como não consigo ser perfeita boicoto-me a mim mesma. Quantas vezes não o fiz na faculdade. Preferia chumbar a uma disciplina a passá-la sem ser em condições. E com a condução acontece exactamente o mesmo. Das vezes que me aventurei a fazê-lo o que mais me custava era errar em frente ao meu pai, em frente ao meu namorado e eles a chamarem-me a atenção, para não fazer assim, para corrigir isto, para acelerar, para meter a mudança a seguir e eu ali a sentir-me cada vez mais pequenina, cada vez mais nervosa, cada vez com mais vontade de chorar. E eu que até gosto de conduzir. Mas depois também há os outros carros. Carros que apitam, carros que se metem à minha frente mesmo à cão, carros que não sabem fazer rotundas. E depois o medo de bater e de estragar.  É por isso que não conduzo, porque me sinto uma míudinha insegura e pequenina sempre que o faço.

4 comentários:

ana disse...

Percebo-te perfeitamente. Eu não conduzi durante 13 anos e agora que comprei carro foi um martírio para começar a conduzir. Agora, que conduzo ha cerca de dois meses, já não tenho tanto medo, mas sempre que me apitam ou faço alguma asneira, fico nervosa. Só com prática é que isto passa e é por isso que pego no carro todos os dias. Mas ainda tenho medo.

Mary disse...

Quando comprar o meu carro, espero conseguir perder o medo.:)

L.T. disse...

pois eu tb tenho a carteira, que também foi um paaarto, um dolorso parto de mais de um ano e meio para sair. porém, desde que tirei a carteira, nunca tive carro, nunca mais dirigi. acho até que já esqueci como é. àsvezes me pego imaginando onde estão os pedais pra ver se não esqueço.
carteira de motorista sem carro é, mesmo, uma inutilidade...

' Claudjinha disse...

Gostei deste post. começaste e acabaste com a questão da condução, mas no meio falaste de outras coisas ao longo da tua vida que estão relacionadas com o mesmo. o teu medo de errar é natural e, por um lado, bom, porque pensas antes de fazer, e só te lanças quando sabes que vais fazer o que sabes que está certo (como aqueles putos na escola que nunca falam nas aulas, mas quando levantam o dedo, é para acertar na resposta). por outro lado, cuidado porque isso pode prejudicar-te, e não há nada melhor do que (só por vezes) viver no limite, ser impulsiva, agir só porque sim, esquecendo o medo de errar. errar é humano! um cliché, mas muito verdadeiro.

beijinhos