15.6.15

Se calhar é melhor assim,

não sabermos nada um do outro a não ser o caminho para os nossos corpos.
não falarmos a não ser para saber quando nos vamos encontrar.
não nos vermos a não ser para cumprir os propósitos do desejo.
Assim não penso em ti
a toda a hora a todo o instante,

só as vezes, 

de manhã no chuveiro eu a sorrir e a lembrar-me dos nossos corpos nus a escorrer água, tu a lavares-me as costas e a contar historias de balneário.
quando  vou a conduzir sem pensar em nada, os olhos que batem na ponte que me leva a ti, e uma vontade de virar a direita em direcção a ti.
quando vou fumar um cigarro, as memórias olfactivas do cigarro que partilhámos à janela da minha sala a voltarem, os nossos corpos ainda ofegantes, as pernas bambas e o cabelo desgrenhado.
quando me vou deitar e bato com os olhos no teu relógio em cima da mesinha de cabeceira,

o cabrão do relógio, 

todos os dias ali a olhar para mim,
a lembrar-me de ti de manhã ao acordar, à noite ao deitar,
a lembrar-me que se calhar é melhor assim não falamos mas, a desejar secretamente que seja hoje  o dia em que vais falar comigo.

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