13.11.14

É isto mesmo

"É mais ou menos como a droga - os viciados passam a vida à procura da mesma sensação que tiveram a primeira vez que consumiram. No amor é o mesmo, para algumas pessoas. Andam uma vida inteira à procura da vertigem que sentiram a primeira vez que amaram alguém. As dores de estômago, o coração a bater mais depressa do que o que é recomendado pelos médicos, as noites sem dormir, as horas ao telefone, desliga tu, não, tu primeiro, a vontade de morrer nos braços daquela pessoa tal é o amor que se sente. Replicar isto é impossível. É preciso uma boa dose de ingenuidade, de crença absoluta, de disponibilidade mental e emocional para sofrer os horrores (e as alegrias) do primeiro amor. Nunca mais se ama como daquela primeira vez. Tentamos convencer-nos que assim é melhor, ninguém aguenta tanta palpitação, tanto tempo de estômago apertado, tanta incerteza, loucura, cegueira, desassossego. Tentamos convencer-nos que assim é melhor, um amor tranquilo, cúmplice, confortável, seguro. Mas no fundo, bem no fundo, caladinho que nem um rato, queremos sentir outra vez - mais uma vez que seja - a vertigem, a entrega total sem pensar em mais nada porque mais nada importa. O calor a consumir cada minuto do dia.
A filha de uma colega de trabalho sofreu um desgosto de amor. Tem o coração partido, amachucado, quase em cinzas. O primeiro amor da vida dela acabou, não porque ela já não o ame mas porque ele é uma besta. E mesmo depois de ter sido traída muitas e muitas vezes ao longo de quatro anos (ela só tem 20), depois de muitas desilusões, ela acabava nos braços dele porque aquela sensação - aquele fogo no coração - valia por tudo. Diz ela que tem medo de nunca mais voltar a gostar de ninguém como gosta dele. Todos temos, miúda. Todos temos."

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