Vou a festivais de música desde os meus 17 anos. Quando comecei a ir a festivais, era a forma mais barata de termos acesso a um conjunto de bandas que de outra forma não passariam por Portugal, pois não fazia parte das tours da maioria das bandas. Há 17 anos atrás, também não havia esta facilidade em termos acesso aos albuns dos artistas que gostávamos. Os CDs eram caros, o youtube estava a dar os seus primeiros passos, o streaming era inimaginavel. Restavam-nos os CDs piratas e as músicas que demoravam 2 dias a descarregar de plataformas como o Napster e Emule, quando o acesso à internet ainda era feito através de um modem RDIS de 56k.
Quando comecei a ir a festivais de música, existiam duas opções de alimentação: pão com chouriço ou bifanas. Não havia máquinas multibanco no recinto e por isso iamos com o dinheiro contado, sendo que era preciso guardar algum para a viagem de regresso a casa. Não se vendia tabaco no recinto e às vezes a única forma era cravar um cigarro ao vizinho do lado. Havia um ou outro stand de marcas que patrocinavam o festival e que davam uns brindes. Se querias imortalizar o momento com uma foto não tinhas outra opção que não levar uma máquina fotográfica e às vezes as redes de telemóvel deixavam de funcionar por estar a sobrecarregar a antena local de comunicações. As pessoas iam ouvir a música e na terça-feira seguinte compravam o jornal blitz para verem as fotos e lerem as reviews. Mas o mais importante de tudo é que as pessoas que estavam ali, estavam ali para ver as suas bandas preferidas actuar. Em 17 anos o landscape dos festivais de música mudou muito. Mas as pessoas que os frequentam também mudaram. Hoje em dia o festival é um acontecimento social, é o evento cool do fim de semana. Vai-se para ver e ser visto. A música passou para segundo plano. Não importa o cartaz, importa aparecer. Vai-se conversar com os amigos e não para ouvir a música. Quando comecei a ir a festivais de música, levava-se a roupa mais podre que tivéssemos em casa, para poder apanhar banho de cerveja. Nos dias de hoje saem artigos sobre os "10 outfits mais cool para arrasares no festival" e trocou-se o eyeliner preto esborratado por glitter e coroas de flores. Sei que pareço um velho do restelo, mas cada vez tenho menos paciência para esta existência bacôca das redes sociais. A descarga de dopamina deixa de vir de cantar a plenos pulmões a música da nossa vida, mas do número de likes que a nossa foto gerou. E isso arruína a experiência de quem está ali pela música. E eu gostava muito que parassem de me arruinar os festivais.