12.12.17

Querido Blogue,

Eu ás vezes esqueço-me de quem sou e deixo-me levar. Não que me arrependa, mas com 31 anos no lombo já devia saber melhor. Tenho uma personalidade bastante atípica. Consta que apenas 0.8% das mulheres no mundo têm a mesma personalidade que eu. Ou seja, em 500 mulheres apenas 4 terão o mesmo tipo de personalidade que eu. Ora, isto faz de mim um cabrão de um unicórnio. O que não é bom. Os unicórnios são bichos esquisitos que cagam glitter e vomitam arco-íris. Eu sou um bicho esquisito à minha maneira. Introvertida, super-analítica e racional, uso a lógica em vez da emoção para tomar decisões, raramente mostro emoções em público and so on. Fria e distante segundo alguns, intimidante segundo outros. Durante anos senti-me uma outsider. Bicho dos livros, menina das boas notas, sempre com poucos amigos. A adolescência foi difícil para chuchu, mas foi-se fazendo. Sempre com a sensação de não ser bem como os outros meninos, com alguma frustração por ser diferente. Só anos mais tarde quando fiz um teste de personalidade comecei a entender-me melhor. Subitamente tudo fazia sentido. Comecei a compreender-me melhor e a idade também me trouxe capacidade de aceitação. Aprendi a gostar de mim e a abraçar a minha diferença. Tive a sorte também de conseguir manter um grupo de amigos ao longo de toda a vida e de ir aos poucos adicionando pessoas espectaculares com quem me fui cruzando. Do ponto de vista académico tive um percurso irrepreensível (tive os meus percalços, mas consegui ser bem sucedida), mas comecei a namorar muito mais tarde do que a maioria dos meus amigos. Tive o meu primeiro namorado aos 19 anos. Foi com ele que dei o primeiro beijo, perdi a virgindade e mantive uma relação super longa de quase 7 anos. Aos 26 fiquei solteira e desamparada emocionalmente. Demorei quase 3 anos a esquecer essa pessoa. Estive 2 anos sozinha e sem sexo. Aos 28 tinha praticamente desistido de encontrar alguém e estava perfeitamente resignada à minha condição de forever alone. E então conheci um miúdo fixe na despedida de solteira da minha melhor amiga. Era mais velho e inteligente. Falou-me de cassettes de DNA e derreti-me toda. Curtimos e trocámos números. Ele disse que me queria voltar a ver. Flirt, flirt, flirt e encontro de novo. Eu sem saber o que era aquilo, a levar tudo com calma e ele beija-me e dá-me a mão, em público, na rua. E eu tola a medir as coisas pela minha bitola a achar que era sério. Borboletas, milhões de borboletas. Fim do período de secura, finalmente sexo! Borboletas everywhere e depois o balde de água fria. Que eu era uma miúda impecável, mas que ele não sentia o mesmo por mim. Chamei-lhe covarde, mas burra e carente deixei a porta aberta. E ele voltou. Claro que voltou. Durante 2 anos fomos fuck buddies, friends with benefits o que lhe quiserem chamar. E sim, esta merda foi uma relação. Ninguém fode com alguém durante dois anos só porque sim. Pelo meio engatei (?) ou fui engatada por mais um gajo na noite, de quem não me lembro nem da cara, nem do nome, mas havia uma barba que cheirava a tabaco, uma barriga demasiado grande para o meu gosto e nem sequer beijava assim tão bem. Não me orgulho deste momento. E tive um colega de trabalho interessado em mim com quem eu acedi a sair, mas com quem não senti qualquer spark. Sempre tive muito poucas pessoas interessadas em mim, nunca fui moça de despertar paixões e sempre me interessei por muito poucas pessoas, ou por pessoas que eu sabia que eram impossíveis - ou porque eram comprometidas ou areia demais para mim (durante muito tempo tive o síndrome do patinho feio e dificuldade em sentir-me interessante). O ano passado acedi em instalar o Tinder. Eu a minha amiga igualmente solteirona. O Tinder tem sido uma experiência social "interessante". 90%  é merda. Gajos que só querem foder, gajos feios, gajos atrofiados e emocionalmente instáveis. 95% das conversas morrem por ali porque eu odeio small talk e sinceramente 98% deles são horrivelmente desinteressantes e dotados de pouca inteligência e isso para mim é o verdadeiro turn-off. Uso aquilo de vez em quando, quando estou aborrecida e para me rir um bocado com o que por lá aparece. Um ano daquilo e nunca acedi a sair com ninguém. Minto. Combinei um date com um tipo que nunca chegou a acontecer. Felizmente para mim, porque ele tinha problemas e eu para dramas vejo a novela da noite. Há um mês fiz match com um unicórnio no Tinder. Um gajo giro, inteligente, com excelente sentido de humor, meio geek. O click foi instantâneo, a conversa a fluir como nunca. Passamos ao whatsapp e são noites seguidas e inteiras a trocar mensagens, sempre sem perder entusiasmo. Combinamos encontrar-nos da maneira mais geek e fofa possível. Vamos jantar a um sítio excelente e ele vem de blazer todo bonitinho. Eu nervosa para chuchu, mas tudo corre bem, saímos dali e vamos beber mais um copo, ficamos até o bar encerrar e sermos expulsos. Continuamos a falar, vamos ao segundo date, a química acontece, as coisas dão-se. E eu nem consigo acreditar na sorte que tenho. Há alguns turn-off, mas nada que não se resolva, pois a verdade é que a empatia é excelente e imediata. Estamos juntos mais algumas vezes e o entusiasmo é mútuo. Eu analiso todos os sinais e deixo-me ir. Porque não posso estar assim tão enganada. E apaixono-me. E há borboletas e eu ando nas nuvens. Até que ele larga a bomba. Há uma ex-namorada. Há uma ex-namorada por quem ele ainda tem sentimentos. E eu penso "Caralhos me fodam, tinha que haver um cabrão de um twist". Porque tudo era demasiado perfeito. E eu explico-lhe que não tenho feitio, nem para esperar, nem para ser segunda escolha de ninguém. E assim terminou. E chateia-me porque fui burra mais uma vez e criei expectativas. Achei que era desta. E é tão raro sentir esta conexão imediata com alguém, sentir esta vontade de querer estar com alguém, que me deixei ir. Mas eu devia saber melhor. Esta coisa das relações é muito difícil. É ainda mais dificil quando se tem uma personalidade estranha que não é compreendida pela maioria das pessoas. Para mim, sentir esta conexão com alguém a um nível tão profundo deixa-me em êxtase a perco a racionalidade toda. Eu devia ter estado mais atenta. Os sinais deviam estar lá e eu não os vi. E chateia-me que alguém tenha vindo perturbar mais uma vez a minha paz interior. Porque eu apesar de tudo vivo bem com a minha solteirice. Aprecio estar sozinha e sou feliz assim. Sou bem resolvida e concedo que para uma personalidade como a minha será difícil arranjar um bom match. Isso vê-se facilmente pela minha dating life. Tenho 31 anos, beijei 4 pessoas e fodi com 3. Não me incomoda, porque não pretendo andar a coleccionar peles de gajos na parede. Mas incomoda-me que venham perturbar a minha paz de espírito e criar-me expectativas e depois ter uma porra de uma desilusão.

2 comentários:

Vânia disse...

O amor é mesmo "um lugar estranho". Gostava de te poder dizer mais do que isso, mas não seria justa. Um dia hás-de acertar.

Joana disse...

Mary, gostei da tua sinceridade e abertura. Tens uma forma muito própria de escrever que prende o interesse e parece que vejo um certo sentido de humor no meio da desilusão que descreves. Como dizes, as relações são difíceis e as pessoas são complexas... É difícil encontrar a pessoa certa. O teu momento vai chegar. Espero que até lá consigas atingir o teu equilíbrio interior de novo. Beijinhos e força.