2.1.16

Querido Ex,

demorei 3 anos (mais do que 3 anos) para te perdoar. Durante, muito tempo tive este ressentimento dentro de mim, até que percebi que tinha que let go... E assim fiz. Forgive and let it go (perdoa-me os anglicanismos, mas a minha cabeça já está formatada para o inglês). Coincidência ou não nessa altura houve uma mudança na minha vida, um novo emprego que me permitiu deixar aquele outro que aceitei 1 mês antes de teres decidido terminar a nossa relação por causa da distância...essa puta sempre metida entre nós. Acho que passámos mais tempo separados do que juntos, mas na minha cabeça, tínhamos o que era preciso para suportar isso e muito mais. Mas essa ideia só existia mesmo na minha cabeça e por isso culpei-te até à exaustão pelo fim de tudo. Nestes últimos 3 anos defini muito bem o que é que não voltaria a tolerar numa relação. Nunca mais toleraria ciúmes doentios, assim como nunca voltaria a estar com alguém que me obrigasse a escolher entre uma relação e os meus amigos. Nunca mais vou tolerar alguém inseguro, que me envie mensagens de madrugada por causa de um pesadelo parvo e sem fundamento. Nunca mais vou permitir que alguém duvide de mim sem motivos nenhuns para o fazer. E foi seguindo nesta linha de raciocínio que fui construindo o processo mental que me permitiu esquecer-te, ultrapassar o desgosto que me deste e seguir com a minha vida. Mas no outro dia tive uma epifania. Durante muito tempo achei que com o fim da nossa relação tinha aprendido aquilo que não queria numa relação futura. É verdade, mas apenas de um ponto de vista muito egocêntrico. Mas o que é que eu na realidade aprendi que me permitiu tornar uma pessoa melhor? Não precisei pensar muito para descobrir. Lição número 1: Uma relação é feita de expectativas. Expectativas do que a outra pessoa deve ser, expectativas do que a relação deve ser, expectativas para o futuro. Expectativas, expectativas, expectativas. A relação constrói-se tendo como base a gestão das expectativas próprias e da outra parte. Se essa gestão não for bem feita há alguém que vai ficar frustrado e insatisfeito, o que em última análise leva ao fim da relação, pois há um gap entre aquilo que a pessoa recebe e aquilo que a pessoa acha que devia receber. Esta lição leva-me inevitavelmente à conclusão seguinte. Há coisas que não farás por amor. Há um limite para aquilo que estás disposta a fazer pela outra pessoa. O que há primeira vista pode parecer egoísta pois o que nos enfiam pelas gargantas abaixo é que quem ama faz tudo por amor. Mas não é verdade. Todos temos um limite. Uns mais há frente, outros mais atrás. Mas isso significa que há determinadas decisões que podem fazer terminar a relação. Especialmente quando as expectativas não foram bem geridas, quando há uma parte que está frustrada e insatisfeita e quando há determinados limites que não se está disposto a ultrapassar. Durante muito tempo, culpei-te só a ti. Pensava que me tinhas obrigado a fazer uma escolha impossível. E por isso a culpa era tua. Mas fui eu que escolhi assim, fui eu que tomei a decisão. E tu decidiste que não querias viver mais assim, o que é perfeitamente legítimo, mas durante muito tempo não o vi assim. Ambos fizemos as nossas escolhas e essas levaram-nos a seguir caminhos separados. Não me arrependo. Hoje conheço-me melhor, sou uma pessoa melhor, e embora te amasse muito, era um amor miúdo, muito infantil, muito inocente.  Hoje conheço os meus limites, hoje sei até onde poderei ir por amor, hoje conheço-me melhor. Graças a ti tento ser uma pessoa melhor e não cometer os mesmos erros do passado. Uma parte do que sou hoje a ti o devo e por isso também te estou agradecida. Por isso e por tudo o que me mostraste sobre mim que eu desconhecia. Não sou mais aquela miúda super insegura, que achava que nunca iria ser amada. Fizeste de mim uma pessoa forte e mais segura de mim mesma. Demorei muito tempo a chegar aqui. Ainda tenho issues para resolver mas esses é cá comigo e por outros motivos. Não quero continuar a estar zangada contigo. Apesar de este ser um fardo cada vez mais leve, não quero continuar a andar com ele ás costas. Por isso espero sinceramente ter fechado este capítulo em 2015. Bom 2016! Sê feliz.

4 comentários:

_+*Ælitis*+_ disse...

Não podes imaginar o quanto gostei deste post. É por isto que gosto de ler blogs, sobretudo de pessoas que se despejam completamente em tamanha honestidade. Passei pelo mesmo processo que tu, com várias pessoas. Criei a minha lista de culpas, de expectativas frustradas e de novos non-negotiables. Demorei a levantar-me, mas desde que me levantei, não me deixo mais cair.
Desejo-te, agora de coração mais livre e solto, um excelente 2016. Se por ventura sentires uma recaida, volta a ler este texto.

Joana disse...

Gostei da sinceridade e das conclusões, com as quais concordo.
Bom 2016 :)

Vânia disse...

Parece-me uma excelente forma de começar o ano. Parabéns! :)

Mary disse...

Já vamos a 18 de Janeiro e já parece um bocado ridículo, mas desejo-vos igualmente um bom 2016 Elite, Joana e Vânia!