Sou adepta que antes de casar um casal deve viver junto. Assim um bocadinho como quando os jogadores de futebol vão de estágio estágio antes de disputar a taça. Não que eu seja pense que casar é o derradeiro passo na vida de um casal, mas faz-me espécie aquelas pessoas que nunca viveram juntas, e toca de dar o nó na igreja (ou no civil) em frente a deus (ou ao conservador) sem estagiar primeiro. Porque ainda há quem não faça isto. E há pessoas com feitios completamente incompatíveis que se casam sem noção disso, na ilusão de que o amor será suficiente para superar essas divergências.
É difícil viver junto. É difícil partilhar um espaço que não estamos habituados a partilhar com mais ninguém, e de um momento para o outro, está ali outra pessoa, que tem tal como nós as suas manias, seja deixar tudo desarrumado, seja o comportamento obsessivo compulsivo de arrumar tudo ao milímetro. Quando se decide viver junto é preciso aprender a ceder. O que obviamente não implica perda de personalidade, porque não virá daí mal o mundo se cedermos um pouco ao nosso capricho de deixar o pijama no chão do quarto, ou de querer que o outro tenha a gaveta das cuecas organizada por cores.
Eu por exemplo não suportaria viver com alguém maníaco das limpezas, da arrumação, do ambiente asséptico e esterilizado, que andasse atrás de mim para limpar as migalhas da bolacha que fui comer para o sofá. Mas era capaz de me tornar mais organizada e arrumada, se a outra pessoa se tornasse um pouco menos obsessiva.
Isto tudo porque agora, de vez em quando, o homem vem-me dormir cá em casa. E nem sempre é fácil, e nem sempre tenho paxorra para lhe aturar as manias e fico irritada e amuo e faço beicinho e todo o tipo de chantagem emocional. Às vezes consigo ser muito intolerante e levar tudo muito a peito, como se o facto de ele pegar numa esfregona para lavar o chão, fosse sinal que eu sou pouco asseada. O que eu tenho de perceber é que ele se sente melhor assim. E se ele se sente melhor assim, encantada da vida que eu estou. Cá por mim, estou a pensar mandá-lo vir cá dormir cada vez que for altura de fazer limpezas.